Violência policial
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Trauma da farda
Cidadãos periféricos não se esquecem de agressões cometidas por agentes do Estado; Polícia Militar diz que não hesita em tomar as medidas necessárias em casos de ações policiais que ultrapassem os limites constitucionais.
Uma jovem de pele parda teve a mochila revirada, todos os pertences jogados no chão, enquanto dois homens a seguraram com uma força capaz de quebrar seu braço. Tudo isso por não estar portando um documento e morar onde mora. Essa é a lembrança traumática da profissional de telemarketing Rafaela* de 28 anos, que, aos 16, foi abordada de forma agressiva por três policiais militares brancos, em Ceilândia Norte. O episódio ocorreu em 2011, mas nunca saiu da sua cabeça. Até hoje, ela tem receio de policiais.
Ela estava a caminho da casa de sua mãe quando os policiais saíram do camburão e solicitaram o documento de identificação. Rafaela se dispôs a buscá-lo, pois ainda estava perto de sua casa, mas um policial começou a revistar sua mochila, jogando todos seus pertences no chão, enquanto os outros dois a seguravam com muita força pelo braço com intuito de quebrá-lo.
“Só pararam de me machucar porque eu gritava muito e isso chamou atenção de todos que passavam e alguém foi até minha casa chamar minha tia,” completou Rafaela.
A vítima acredita que a abordagem da polícia foi violenta por preconceito, por ela residir em Ceilândia Norte, região administrativa do DF. A região periférica que é a mais populosa de todo o Distrito Federal, com 350.347 moradores segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) realizada em 2021.
Ela conta que não foi a primeira a sofrer esse tipo de abordagem e não será a última, pois essa é uma situação recorrente na área em que mora. “Eu sempre tive muito respeito por policiais, mas hoje em dia não enxergo a polícia com os mesmos olhos de antigamente, como protetores, pois nem todos são assim. Depois desse dia eu me senti muito discriminada por parte da polícia. Qualquer viatura que eu via, eu já ficava com muito medo de passar por toda aquela situação de novo”, desabafa.
Rafaela acredita que a forma como a abordaram quando mais jovem nunca teria ocorrido com uma pessoa de pele branca que morasse em bairro nobre. “Quando fui abordada, me disseram que por eu morar onde morava, me tornava uma pessoa suspeita para a polícia. E, para justificar a abordagem, acrescentaram que os bandidos não usam ‘estrela na testa’ para se diferenciarem”.
Por ser uma mulher periférica, não acusou formalmente os policiais por abuso de poder, por medo de não acreditarem em sua palavra. “Infelizmente, conheço pessoas que já foram assaltadas, agredidas, que ficaram com medo de registrar um boletim de ocorrência, porque sabiam que não acreditariam na palavra deles, por serem negros e periféricos”.
A versão da polícia
De acordo com o Major Michello, 47 anos, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) se destaca como uma instituição com baixos indicadores de violência policial. “Isso é resultado de um compromisso constante com a legalidade e o respeito aos direitos humanos, que começa desde o processo seletivo e se estende ao longo de toda a carreira do policial militar”, destaca.
Michello destaca que a PMDF, em sua missão de promover a segurança e a ordem pública, baseia-se na repressão imediata da criminalidade, sempre fundamentada nos direitos e na participação da sociedade. Valores fundamentais como ética, honestidade e respeito aos direitos humanos orientam a atuação da corporação.
“Assim, a Polícia Militar do Distrito Federal se firma como um exemplo de instituição comprometida com a segurança pública e o respeito aos direitos humanos, demonstrando primar por uma abordagem responsável e ética na atuação policial”, completa o Major.
Fontes: https://agenciadenoticias.uniceub.br/cidadania-e-diversidade/violencia-policial/